Segundo o Wiktionary, preconceito – ou “pré-conceito” – é um “conceito formado com base em julgamento próprio que exige tom depreciativo da diferença”, é uma “análise tendenciosa”, uma “discriminação provocativa”. Na verdade, existem diversas definições para preconceito, a maioria baseada na ideia de que se trata de “um juízo preconcebido” com “conotação negativa” “imposta pelo meio, época e educação”.

 

Existem diversos tipos de preconceito no Brasil: contra negros, mulheres, deficientes, homossexuais, obesos, nordestinos, adeptos de religiões afro-brasileiras, seguidores de religiões não-cristãs, de classe social etc.

 

Xenofobia é o medo de estrangeiros. Pessoas xenófobas normalmente tem preconceito contra estrangeiros e por pessoas de outras regiões.

 

Homofobia é o medo de homossexuais, travestis e transexuais.

 

Racismo é um termo usado para definir o preconceito contra grupos raciais (negros, judeus, índios etc) diferentes daquele a que pertence o sujeito.

 

Etaísmo é o preconceito baseado na idade, a discriminação por idade. O tipo mais comum de etaísmo é o preconceito contra idosos.

 

Machismo é a crença de que os seres humanos do sexo masculino são superiores aos do feminino. Alguns sociólogos e intelectuais classificam o machismo como preconceito contra a mulher.

 

Eugenia é um termo criado pelo britânico Francis Galton, cujo significado é “bem nascido”.   Os defensores da eugenia pregam o melhoramento genético da espécie humana. Em suma, a eugenia é uma forma de racismo.

 

Intolerância religiosa é um termo usado para definir tanto o preconceito contra religiões ou indivíduos filiados a determinadas religiões. É também utilizado para definir a discriminação contra ateus.

 

Islamofobia é aversão e preconceito contra o islã e os maometanos. A islamofobia cresceu de forma acentuada no Ocidente e em diversas regiões do planeta após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

 

Antisemitismo é palavra usada para designar o preconceito e a perseguição a judeus.

 

Pogrom é um ataque maciço e violento contra um grupo de pessoas. Além de destruir o grupo, o pogrom visa a destruição de seu ambiente. Alguns dos mais recentes pogroms da história foi contra os judeus europeus, especialmente durante o regime nazista alemão.

 

Gueto (palavra oriunda do italiano ghetto) é uma região ou bairro onde vivem os membros de um grupo étnico ou social. Um dos guetos mais conhecidos foi o de Varsóvia (Polônia), para onde foram removidos milhares de judeus.

 

Campo de concentração é uma espécie de centro de confinamento militar para onde são enviados opositores do regime, soldados estrangeiros e grupos sociais perseguidos (ou seja, também é resultado do preconceito). Um dos campos de concentração mais famosos é o de Auschwitz, na Polônia, onde morreram milhões de judeus.

 

Nazismo: doutrina política propagada pelo ex-ditador alemão Adolf Hitler que sustentava a ideia de superioridade da “raça” ariana (europeus brancos) sobre as demais “raças”. Os nazistas foram os maiores responsáveis pela perseguição e extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

 

Neonazismo: doutrina baseada nas ideias racistas nazistas. Seus seguidores propagam o ódio a diversos grupos, de judeus a homossexuais, de negros a comunistas. Existem movimentos neonazistas em diversas partes do mundo, inclusive na América Latina.

 

Skinheads: grupos neonazistas que propagam tanto as ideias de superioridade racial da “raça” branca quanto a violência contra judeus, negros, homossexuais, comunistas, hippies e imigrantes. Os skinheads são formados na maioria por jovens. No Brasil, os grupos mais conhecidos são o White Power e o Carecas do ABC.

 

Ku Klux Klan: grupo racista formado nos Estados Unidos logo após a Guerra de Secessão. Além de pregar a supremacia W.A.S.P (do branco, anglo-saxão e protestante), a Ku Klux Klan persegue negros, judeus e imigrantes. Hoje, esse ódio também é dirigidos aos islâmicos, católicos e homossexuais.

 

Apartheid: regime de segregação racial sul-africano. A palavra apartheid vem do africâner e significa separação. O apartheid dividia a população entre brancos e não-brancos (negros, indianos etc). As grandes vítimas eram justamente a maior parte da população: os negros. Brancos e negros não podiam frequentar juntos os mesmos banheiros públicos, ônibus, trens, piscinas e até praias. O sexo “inter-racial” era proibido.

 

A situação dos negros norte-americanos não era muito diferente. Até o início da década de 1960, eles eram proibidos em muitos estados de frequentar as mesmas escolas, usar os mesmos assentos de ônibus e até utilizar os mesmos banheiros públicos dos brancos. A situação começou a mudar quando Rosa Parks, uma senhora do Alabama, se recusou a ceder seu lugar no ônibus a um branco. Rosa foi presa e seu encarceramento gerou uma onda de protestos de negros nos Estados Unidos. Os protestos foram liderados por um pastor chamado Martin Luther King. E todos conhecem o resto da história.

 

Outra manifestação de preconceito é a limpeza étnica. Ela visa muito mais do que a discriminação, visa a eliminação do outro. A maior limpeza étnica de que se tem notícia ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. No total, 6 milhões de judeus foram mortos. Mas houveram outras grandes limpezas, como o genocídio armênio no início do século XX, quando cerca de 1 milhão de armênios foram assassinados pelos otomanos. Mais recentemente, houveram limpezas étnicas em Ruanda e na antiga Iugoslávia.

 

Um dos maiores genocídios da história foi praticado pelo regime Khmer Vermelho entre os anos de 1975 e 1979, no Camboja. Dos 8 milhões de habitantes do país, 1,7 milhões foram assassinados. As maiores vítimas foram os chineses, os muçulmanos e os vietnamitas. Acreditava-se que as motivações eram políticas, mas descobriu-se que também eram segregacionistas. O regime considerava determinados grupos criminosos, entre eles os chineses – que tiveram a sua língua e seus hábitos proibidos no país. Os muçulmanos foram obrigados a comer carne de porco (o que é proibido pelo Islã) e os vietnamitas foram fuzilados um por um até desaparecerem do país.

 

Forçados a se converter ao catolicismo na época da chegada ao poder dos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela no final do século XV, cerca de 93 mil judeus se refugiaram em Portugal. Mas nem lá eles encontraram a paz. Centenas foram perseguidos e massacrados durante o pogrom português de 1506. Tal fato é conhecido até hoje como o Massacre de Lisboa de 1506.

 

O preconceito racial no futebol é tão antigo quanto o próprio esporte no Brasil. Tanto é que, no princípio, os times não aceitavam jogadores negros. Para jogar, eles alisavam o cabelo ou cobriam o rosto com pó-de-arroz para disfarçar a cor da pele. A estratégia nem sempre dava certa, pois, com o suor, o pó acabava escorrendo. Foi o que aconteceu com Carlos Alberto, jogador do Fluminense. Em uma partida pelo campeonato carioca do ano de 1914, o rosto borrado do jogador chamou a atenção da torcida adversária, que apelidou o time de Pó-de-arroz.

 

Atitudes racistas contra jogadores estrangeiros (africanos e latinos, principalmente) no futebol europeu são mais comuns do que se imagina. Jogadores brasileiros como Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Adriano, Daniel e Juan, entre outros, foram vítimas de comportamento racista e xingamentos fora e dentro dos campos. Ronaldo chegou a ser xingado de “macaco gordo”. Mas uma das maiores vítimas foi o camaronês Eto’o. Durante uma partida contra o Barcelona, a torcida adversária jogava bananas no campo sempre que Eto’o pegava na bola.

 

Um dos atos antissemitas mais comuns na Europa atualmente é a profanação de cemitérios judaicos. Túmulos são destruídos e, muitas vezes, pichados com a suástica nazista. Em janeiro de 2010, dezenas de túmulos de judeus foram pichados na cidade francesa de Estrasburgo. O detalhe é que a agressão ocorreu no dia em que se comemorava os 65 anos do fim do campo de concentração de Auschwitz.

 

Os ataques a minorias religiosas são mais frequentes do que se imagina. No Paquistão, um ataque terrorista a uma mesquita da minoria muçulmana Ahmadi matou 80 pessoas e deixou dezenas de feridos em maio de 2010. Os terroristas lançaram granadas e atiraram contra a multidão do alto de um minarete. Os ahmadis foram declarados uma minoria não-islâmica pelo governo paquistanês nos anos 70 e proibidos de participar de atos muçulmanos, inclusive orações.

 

Apesar de 90% da população seguir o Islã, não se pode afirmar que o Paquistão é um país exclusivamente muçulmano. Existem minorias hindus, sikhs, budistas e cristãs, vítimas frequentes de intolerância. Entre abril e junho de 2009 ocorreram diversos casos de violência contra cristãos no país. Em junho de 2009, uma multidão de muçulmanos atacou e incendiou as casas de cristãos por causa de uma acusação de “profanação” contra o profeta Maomé. E em 2010, também no Paquistão, uma mulher cristã foi condenada a morte por suposta blasfêmia contra o islã.

 

Apesar de constituírem uma minúscula e inexpressiva ilha no oceano islâmico paquistanês, a minoria étnica kalash é vítima constante de intolerância racial e religiosa. Politeístas em um país monoteísta e loiros em uma nação morena, os kalachis se declaram descendentes das tropas gregas e macedônicas que tomaram sob o comando de Alexandre Magno a região que compreende o atual Paquistão. Além de sofrerem ataques violentos de militantes islâmicos contrários às suas tradições, seus cemitérios são frequentemente profanados.

 

No Irã, pipocam as acusações de perseguição à minoria baha’í. Há anos os adeptos da “fé baha’Í” reclamam da dificuldade de conseguir empregos, aposentadorias e licenças de negócios no país. Os estudantes são expulsos das escolas e os cemitérios, constantemente profanados. Recentemente, diversos líderes baha’ís foram presos pelo governo iraniano. Em 2010, por mais de dois meses, os baha’is tiveram suas propriedades incendiadas na cidade de Rafsanjan.

 

Outro tipo de preconceito é o de castas. Apesar do governo indiano não incluir as castas no censo desde 1931 e proibir o sistema a partir de 1950, na prática a história é outra. O preconceito ainda é grande na Índia, principalmente contra os dalits (os intocáveis, ou impuros). Segundo os hindus, os dalits nasceram da poeira dos pés do deus Brahma e não são exatamente uma casta, mas uma “sub-casta”, abaixo das outras quatro. Eles sofrem diversos tipos de restrições e preconceitos. Os dalits não tem acesso aos templos das castas superiores e sequer podem se aproximar de um brâmane (membro da mais alta casta). Além disso, não podem retirar água de poço ou beber da mesma fonte das castas superiores. Em 1999, 23 trabalhadores dalits foram assassinados por seguranças particulares de uma fazenda pertencente a um homem de outra casta. Veja a que ponto chegou a intolerância aos dalits! Duas casas de dalits são queimadas por hora. Três mulheres dessa casta são estupradas por dia. E a cada 24 horas, dois dalits são assassinados.

 

As perseguições aos ciganos são tão antigas quanto esse povo. De origem indiana, língua romani e hábitos nômades, o ciganos foram vítimas de preconceito em diversos momentos da história. Na França do século XII, os homens ciganos eram presos sem motivos e as mulheres e crianças enviadas para hospícios. Entre 200 mil e 300 mil ciganos europeus foram mortos nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, o governo francês aprovou uma lei visando a expulsão dos ciganos ilegais de seu país.

 

Um dos mais horrorosos casos recentes de intolerância contra minorias aconteceu na África em 2009. Além de sofrerem discriminação em suas aldeias, nas escolas e no mercado de trabalho os albinos africanos são assassinados por causa da cor da sua pele. Dezenas de albinos foram mortos e esquartejados na Tanzânia e em outras partes da África para que seus órgãos fossem retirados e vendidos a bruxos. Braços, pernas, pele, língua e até sangue são vendidos no mercado negro. Acredita-se que beber o sangue de um albino atrai boa sorte e fortuna.

 

Um jornal de Uganda chamado The Rolling Stone (que não tem nada a ver com o famoso grupo de rock) publicou em 2010 uma lista de possíveis homossexuais ugandenses com a manchete: “Enforque-os”. O ato gerou protestos no mundo todo, inclusive de entidades de defesas dos Direitos Humanos e governos de diversos países. Depois da publicação, pelo menos quatro pessoas sofreram agressões. No início de 2011, David Kato, um dos principais ativistas gays do país foi espancado até a morte em sua casa.

 

Também no início de 2011, uma organização internacional chamada Avaaz lançou uma campanha pela internet contra o “estupro corretivo” de lésbicas na África. Um dos casos mais recentes foi o da sul-africana Millicent Gaika. Gaika foi amarrada, espancada e estuprada diversas vezes pelos seus agressores.

 

O diplomata, escritor e filósofo francês Arthur Gobineau (1816-1882) se celebrizou como ensaísta ao escrever em 1855 o livro Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas, considerado a Bíblia do racismo moderno. Para Gobineau, a miscigenação “é a causa da decadência moral da sociedade”. Na visão dele, o Brasil era um país sem futuro por que possuía muitos cidadãos de “raças inferiores”.

 

Se Gobineau sustentou teorias racistas, o general de origem norte-americana Philip Sheridan (1831-1888) sustentou a prática do racismo. Sheridan é autor da frase “índio bom é índio morto”, que ilustra o genocídio de milhões de índios praticado pelos colonos europeus durante a conquista do meio-oeste norte-americano.

 

O criminologista italiano Cesare Lombroso foi autor de vários estudos que procuravam relacionar traços físicos a tendências criminosas. Lombroso não só teve quem o ouvisse, como encontrou seguidores. Os seguidores brasileiros estudaram os crânios de Antônio Conselheiro e Virgulino Ferreira (conhecido como Lampião) para explicar “as personalidades e as atitudes criminosas de ambos”.

 

Estudo feito na Alemanha em 2009 comprovou que a rejeição da sociedades a grupos minoritários aumenta em época de crise. As minorias são sempre acusadas pelos males da sociedade, principalmente quando as coisas não vão bem. A boa notícia é que os sentimentos antissemitas, racistas e homofóbicos diminuíram consideravelmente na Europa nos últimos anos.

 

Um estudo feito entre estudantes no Brasil e divulgado pelo jornal O Estado de São Paulo no início de 2010 revelou que – reproduzimos aqui um trecho da reportagem – “99,3% dos entrevistados têm algum tipo de preconceito e que mais de 80% gostariam de manter algum nível de distanciamento social de portadores de necessidades especiais, homossexuais, pobres e negros. Do total, 96,5% têm preconceito em relação a pessoas com deficiência e 94,2% na questão racial”. A mesma pesquisa demonstrou que “pelo menos 10% dos alunos relataram ter conhecimento de situações em que alunos, professores ou funcionários foram humilhados, agredidos ou acusados injustamente apenas por fazer parte de algum grupo social discriminado, ações conhecidas como bullying. A maior parte (19%) foi motivada pelo fato de o aluno ser negro. Em segundo lugar (18,2%) aparecem os pobres e depois a homossexualidade (17,4%). No caso dos professores, o bullying é mais associado ao fato de ser idoso (8,9%). Entre funcionários, o maior fator para ser vítima de algum tipo de violência verbal ou física é a pobreza (7,9%)”.

 

Adotada em 1965 pelas Nações Unidas, a Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial foi ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968. A Convenção combate e proíbe a discriminação, mas também estimula estratégias de igualdade racial.

 

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