Realizada na Espanha, a Copa do Mundo de futebol de 1982 foi realmente “inesquecível” para os brasileiros. O país tinha confiança de que finalmente conquistaria o tão sonhado tetracampeonato, visto que possuía uma seleção com grandes craques – diga-se Zico, Sócrates, Falcão e companhia – além de um técnico talentoso chamado Telê Santana. A seleção, no entanto, caiu diante da equipe italiana. Ninguém conseguia acreditar que o time dos sonhos brasileiro tinha sido derrotado, voltaria mais cedo para casa e ainda teria que esperar pelo menos mais quatro anos para levar o título.

 

A Copa do Mundo movimentou o país de norte a sul. O chiclete Ping-Pong lançou uma coleção de figurinhas com os craques da seleção – um grande sucesso entre a garotada. Nada, porém, fez mais sucesso do que a música de Moraes Moreira, que repetia: “Nessa Copa do Mundo seremos, seremos os campeões”.

 

Além de Morares Moreira, os brasileiros ouviram à exaustão os músicos Alceu Valença, Gal Costa, Rita Lee, Eduardo Dusek, Michael Jackson e Olivia Newton-John, além das bandas Roupa Nova, The Police e Earth, Wind & Fire. Cantada por Dalto, a canção Muito Estranho embalou as rádios naquele início de década.

 

Gonzaguinha lançou O Que É, O Que É, samba considerado até hoje um clássico da MPB. Elba Ramalho fez o Brasil inteiro cantar Bate Coração, uma canção em ritmo de forró. Gal Costa popularizou o frevo com Festa do Interior (“Nas trincheiras da alegria, o que explodia era o amor”). Rita Lee realizou um show atrás do outro, repetindo os refrões do rock Lança Perfume. Também em ritmo de rock (mais canções de humor), Eduardo Dusek chamou a atenção com os hits Barrados no Baile, Rock da Cachorra e Cantando no Banheiro.

 

Ainda falando de rock, o grupo Blitz lançou naquele início de anos 80 um compacto com a música Você Não Soube me Amar, que foi um sucesso estrondoso. O grupo de Evandro Mesquita, Fernanda Abreu, Lobão e companhia (Lobão saiu antes do lançamento) foi o grande destaque nas emissoras de TV e rádio, capas de revistas e shows pelo Brasil afora. Ele fez um show atrás do outro e, mais do que isso, indicou um tendência na música brasileira dos anos 80: a ascensão do rock.

 

Mil novecentos e oitenta e dois não foi somente um ano memorável na música, foi também no cinema. Diversos clássicos da cinematografia norte-americana chegaram às grandes telas naquela ocasião. Blade Runner – O Caçador de Androides, Poltergeist – o Fenômeno, Rambo, Pork´s, Tootsie e ET – O Extraterrestre arrecadaram milhões de dólares em todo o mundo. Dirigido por Steven Spielberg, ET – O Extraterrestre levou milhares de jovens a assisti-lo duas e até três vezes seguidas. As filas nas portas dos cinemas chegavam a dobrar quarteirões. Ele é até hoje um dos filmes mais lucrativos da história.

 

Parece que músicos, roteiristas, produtores e diretores tiveram um surto repentino de criatividade naquele início de década. Na TV, por exemplo, entraram no ar programas e séries que marcariam toda uma geração. A Rede Globo resolveu investir pesado em minisséries, levando ao ar dois clássicos desse tipo de folhetim: Quem Ama Não Mata (que ganharia um remake décadas depois) e Lampião e Maria Bonita.

 

Elas por Elas e Sol de Verão foram as novelas mais comentadas. A primeira, em virtude do hilário personagem Mário Fofoca, que levaria o ator Luís Gustavo a interpretá-lo em série própria anos depois. A segunda, por causa de um fato que abalou o Brasil: a morte repentina do ator Jardel Filho no comecinho de 83. Sem condições psicológicas de continuar, o autor Manoel Carlos resolveu abandonar a trama, que saiu do ar pouquíssimo tempo depois.

 

A novela Sol de Verão popularizou uma marca de sorvetes chamada Sem Nome. Diversas sorveterias “Sem Nome” foram abertas nas grandes cidades. As pessoas começaram a se interessar pela linguagem dos surdos, em virtude do personagem surdo-mudo Abel, interpretado pelo ator Tony Ramos.

 

Outro modismo foi a sandália de plástico Melissa (um sucesso avassalador entre as meninas no ano de 1980), que passou a vir com um reloginho. O álbum de figurinhas predileto das meninas era Amar É, com o casalzinho pelado que vinha com frases românticas. Entre os meninos, o melhor álbum foi o da Copa do Mundo do chiclete Ping Pong. Não podemos esquecer os ioiôs da Coca-Cola, que virou febre entre pessoas de todas as idades. Bastava juntar algumas tampinhas dos produtos Coca-Cola e dar mais alguns trocados em dinheiro para adquirir o seu.

 

Lançado há cerca de dois anos, o cubo mágico era ainda mania entre jovens e adultos. As meninas se apaixonaram pelos cavalinhos da série de brinquedos Meu Querido Pônei. Mas a grande novidade da época foi o lançamento pela fabricante de brinquedos Estrela de uma boneca de grande sucesso nos Estados Unidos: a Barbie.

 

As personalidades mais comentadas foram o cantor brasileiro Amir Rogério, que ainda fazia sucesso com a música Fuscão Preto, e o norte-americano Michael Jackson, que dominava as rádios do mundo todo com as canções do álbum Thriller. Os craques da seleção brasileira e o técnico Telê Santana também deram o que falar. Mas houve um fato que calou todo mundo, que tentava entender o que tinha acontecido: a morte da cantora Elis Regina. Ela foi encontrada morta em seu apartamento em São Paulo, aos 36 anos. A causa provável foi a ingestão de algum tipo de droga misturada com álcool.

 

A maior novidade foi a inauguração da usina hidrelétrica de Itaipu, na fronteira entre Brasil e Paraguai. Outra grande novidade foram as eleições diretas para governador de estado, as primeiras desde 1965. Com ela, o governo militar dava mais um sinal de abertura política, que culminaria com a eleição de Tancredo Neves em 1985.

 

Para os argentinos, o fato mais memorável do ano foi a Guerra das Malvinas. Disputada entre a Argentina e o Reino Unido, as Ilhas Malvinas foram palco de um conflito que se arrastou durante meses, com a vitória dos britânicos. Ainda hoje, a Argentina reivindica as ilhas para si.

 

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