Os brasileiros receberam o ano de 1987 sem esperança em relação ao Plano Cruzado. Lançado no ano anterior pelo então presidente José Sarney, ele tinha como meta domesticar uma inflação cada vez mais fora de controle. A única coisa que conseguiu foi provocar a falta de itens básicos e… mais inflação!

 

A população se revolta com o aumento cada vez maior dos preços. No Rio de Janeiro, o aumento das passagens de ônibus provoca protestos e quebra-quebras em vários pontos da cidade.

 

Outro assunto que deu muito o que falar tanto no país quanto no exterior foi o incidente com o Césio-137 em Goiânia. Dezenas de pessoas foram contaminadas com material radioativo retirado de um equipamento hospitalar encontrado numa clínica abandonada. No início, ninguém suspeitou que o pózinho brilhante encontrado no equipamento fosse causar tanto estrago. Segundo a Associação das Vítimas do Césio-137, mais de 100 pessoas morreram por exposição direta e indireta à radioatividade.

 

Mikhail Gorbatchev, o então presidente da União Soviética, realiza diversas mudanças no campo político (glasnost) e na economia (perestroika). Ambas contribuíram anos mais tarde para o colapso e fim da União Soviética.

 

Um dos fatos mais comentados durante o ano de 1987 foi a morte de Fernando Ramos da Silva, ator que se tornou famoso nos cinemas por interpretar o menor Pixote. Dirigido por Hector Babenco, Pixote – a Lei do Mais Fraco foi elogiado no Brasil e no exterior. Fernando tentou por várias vezes dar continuidade à carreira de ator. Chegou a participar de novelas na Globo, mas sem muito sucesso. Voltou para Diadema, onde vivia com a família e foi morto por policiais num suposto confronto no bairro de Piraporinha.

 

Outra personalidade que deu o que falar durante aquele ano foi a modelo Luma de Oliveira. Irmã da atriz Ísis de Oliveira, Luma chegou a ser capa da revista Playboy.

 

O maior ídolo do esporte naquela segunda metade da década de 1980 foi o piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet. Não sem motivos. Piquet consagrou-se tri-campeão mundial da categoria, ingressando na lista dos maiores esportistas da história da categoria.

 

Depois de anos atuando na Globo, o humorista Jô Soares assinou contrato com o SBT, onde protagonizou o programa Veja o Gordo. Apesar da boa audiência, o Veja o Gordo teve vida curta. Jô continuou na emissora com o talk-show Jô Soares Onze e Meia, onde recebeu centenas de convidados em sua bancada.

 

Um dos maiores sucessos dos finais de tarde da Rede Globo foi a Sessão Comédia, com as séries de humor Super Gatas, Primo Cruzado, Caras e Caretas, O Poderoso Benson e Super Vicky. A mais curiosa foi Primo Cruzado, que contava o dia a dia e as trapalhadas de um suposto imigrante brasileiro nos Estados Unidos (no original, um imigrante do Leste europeu).

 

Os desenhos de maior audiência na TV em 1987 foram He-Man, Thundercats e Tartarugas Ninjas. O sucesso de Tartarugas Ninjas rendeu novas versões para a TV e o cinema. Aliás, entre os programas infantis exibidos naquele período, estavam Oradukapeta (SBT), Show Maravilha (SBT), Show da Xuxa (Globo) e Clube da Criança (Manchete).

 

Entre as novelas mais assistidas, vale lembrar de Sassaricando, Brega e Chique, O Outro e Mandala. Baseada na tragédia grega Édipo Rei, Mandala contava a história do amor proibido entre Édipo e sua mãe Jocasta, interpretados por Felipe Camargo e Vera Fischer. O que também chamou a atenção do público foi a música-tema de Jocasta, interpretada pela cantora Rosana.

 

Com a música O Amor e o Poder, da trilha sonora de Mandala, a cantora Rosana foi uma das mais ouvidas em 1987. Quem também foi exaustivamente tocado nas rádios e aparelhos “3 em 1” foi Cazuza, com Codinome Beija-Flor. Também fizeram sucesso os grupos Ultraje a Rigor, Titãs e Legião Urbana.

 

Com o inesquecível Renato Russo nos vocais, o Legião Urbana entrou definitivamente para a história da música brasileira (é ainda hoje considerado uma lenda do rock, ao lado de Raul Seixas). Em 1987, o grupo emplacou duas músicas entre as mais tocadas: Eduardo e Mônica e Que País é Esse?.

 

Um dos álbuns mais vendidos foi o Xegundo Xou da Xuxa, o segundo trabalho da então apresentadora infantil Xuxa Meneghel. Foram 2,7 milhões de LPs vendidos, um recorde poucas vezes igualado.

 

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas escolheu Platoon para receber o Oscar de melhor filme daquele ano. Os brasileiros, no entanto, preferiram ir aos cinemas para ver os blockbuster Robocop, Máquina Mortífera, Os Intocáveis, O Predador e Atração Fatal. Além de Platoon, outros dois filmes exibidos em 1987 entraram para a história do cinema: O Último Imperador e A Missão.

 

O bordão da moda foi “Minha deusa”, do personagem de Nuno Leal Maia em Mandala. Entre as crianças, o principal modismo foram as figurinhas da coleção Ploc Monsters, do chiclete Ploc. Adolescentes e jovens aderiram ao bambolê, brinquedo que chamou a atenção graças a uma novela com o mesmo nome, ambientada na década de 1950. Os jovens ajudaram também a ressuscitar outro modismo dos anos 50: a moto Vespa.

 

Entre os estilistas estrangeiros preferidos, nunca é demais lembrar de Pierre Cardim e Yves Saint-Laurent. Este último era muito requisitado pelos mais jovens, que gostavam de ostentar suas calças jeans nas baladas.

 

Por falar em jovens, os paulistanos ouviam com frequência as rádios Cidade, Jovem Pam, Transamérica e 89 FM (ainda hoje conhecida como “a radio rock”). Eles liam a classic novel O Cavaleiro das Trevas, do norte-americano Frank Miller. Por falar em leitura…

 

Os principais best-sellers de 1987 foram: Complexo de Cinderela, de Colete Dowling; Olga, de Fernando Morais; O Perfume, de Patrick Süskind; Só É Gordo Quem Quer, de João Uchôa Jr.; O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel Garcia Márquez; A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera, e Made in Japan, de Akio Morita.

 

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