Quem viveu o ano de 1979 acompanhou com curiosidade – e uma certa apreensão – as notícias sobre a queda da estação espacial Skylab. Não se sabia o ponto exato em que ela cairia na Terra, a única certeza é que podia ser nos locais mais improváveis (um aglomerado urbano, talvez). A Skylab caiu num ponto remoto do oceano Pacífico.

 

Uma das notícias de maior destaque no noticiário internacional foi a revolução que derrubou o xá iraniano Reza Pahlevi. Comandada pelo aiatolá Khomeini, a chamada Revolução Islâmica instaurou um regime teocrático nesse país de população islâmica xiita. Desde então, o Irã têm sido comandado pelo clero muçulmano.

 

Outra notícia veiculada pelos meios de comunicação foi a invasão do Afeganistão pela União Soviética. Com o objetivo de manter o regime de inspiração marxista que se instalou no país, os soviéticos deram início a um conflito que se arrastaria por cerca de uma década. Os rebeldes islâmicos foram armados e treinados pelos Estados Unidos.

 

No Brasil, eram as greves de metalúrgicos do ABC que mais chamavam a atenção nos jornais televisivos, radiofônicos e impressos. Comandadas pelo sindicalista Luís Inácio da Silva, o Lula, elas desempenhariam um papel importante na fundação do Partido dos Trabalhadores e na ideologia de governo dos anos 2000.

 

Quem viveu o ano de 1979 testemunhou diversas mudanças sociais, como a criação da Lei da Anistia, que permitia que exilados políticos pudessem voltar ao país. A emancipação da mulher e o divórcio transformaram-se em realidades palpáveis. Viu também como a inflação e a dívida externa ficaram fora de controle. O milagre econômico do início dos anos 70 parecia cada vez mais distante. Viu ainda a abertura política que seis anos depois daria fim ao regime militar.

 

As personalidades mais faladas daquele ano foram o clérigo iraniano Ruhollah Khomeini, que derrubou o xá do Irá; o ativista Fernando Gabeira, um dos beneficiados pela Lei da Anistia; a atriz Regina Duarte, a protagonista divorciada do seriado Malu Mulher; o cantor Sidney Magal, por ter conquistado os programas de auditório com música como Sandra Rosa Madalena; e a cantora Gal Costa, que estava no auge da carreira.

 

Os anos 70 foram bastante significativos para a música brasileira e internacional. O tsunami de criatividade deu origem a disco music, ao punk e outros estilos. Músicos de MPB como Chico Buarque, Jorge Ben, Gal Costa, Clara Nunes, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Paulinho da Vila, Simone e Elis Regina lançaram álbuns até hoje considerados clássicos. Nas rádios e programas musicais na TV, a música brega de Odair José, Waldick Soriano, Benito di Paula e Wando, entre outros, conquistava cada vez mais espaço.

 

Era o auge da onda disco. Nas residências, festas de formatura e discotecas, a pessoas dançavam ao som de Bee Gees, Village People, Gloria Gaynor, Chic e Anita Ward. Um dos grupos de maior sucesso entre 1978 e 1979 foi o norte-americano Village People. Ícone da subcultura gay da época, o Village People emplacou várias músicas nos primeiros lugares das paradas. Curiosamente, a disco já estaria totalmente fora de moda no curto período de dois anos.

 

A moda das discotecas permitiu o surgimento de um grupo brasileiro formado apenas por mulheres: As Frenéticas. Em 1979, elas fizeram bastante sucesso com a música-tema da novela Feijão Maravilha. O cantor Fábio Jr. estourou com Pai, tema da novela Pai Herói. Nelson Gonçalves cantou o tema de Cabocla. Outras novelas exibidas na época: Os Gigantes, Marrom Glacê, Aritana (uma das últimas novelas de sucesso da Tupi) e Cara a Cara (uma produção da TV Bandeirantes).

 

A Rede Globo resolveu investir pesado nas séries de TV, que eram exibidas sempre nos finais de noite. Uma delas foi Carga Pesada, com Antônio Fagundes e Stênio Garcia; outra foi Plantão de Polícia, com Hugo Carvana. Mas foi Malu Mulher, com Regina Duarte, que fez maior sucesso. Ao contar a rotina e os desafios de uma mulher divorciada e que precisava criar sozinha a filha, Malu deu muito o que falar. Ele ainda foi exportado para diversos países.

 

Diversos clássicos do cinema foram lançados em 1979, entre eles Apocalypse Now. Dirigido por Francis Ford Coppola, ele é ainda hoje considerado um dos melhores filmes da história do cinema mundial. Ele foi lançado quase ao mesmo tempo que Tess, Kramer x Kramer, All That Jazz e O Campeão. O diretor Franco Zefirelli fez milhões de pessoas chorarem com as cenas finais de O Campeão (uma observação: se você assistir dez vezes, irá chorar dez vezes).

 

Um dos escritores mais lidos naquele final de anos 70 foi J. M. Simmel, autor de Eu Confesso Tudo e Amanhã é Outro Dia. Harold Robbins lançou Os Sonhos Morrem Primeiro e Morris West publicou A Estrada Sinuosa. O brasileiro Luís Fernando Veríssimo conquistou leitores de norte a sul com as aventuras do detetive Ed Mort. Mas foi o recém-anistiado Fernando Gabeira quem mais deu o que falar com O Que é Isso, Companheiro?, um livro que anos mais tarde seria adaptado para o cinema.

 

As pessoas tinham conta em bancos que não existem mais, entre eles o Nacional, o Delfim, o Real, o Continental, o Bamerindus e o Comind. Faziam compras no Jumbo-Eletro e Ao Barateiro. Liam jornais sensacionalistas como o paulistano Notícias Populares. Assistiam Os Pankecas, Aritana e Clube do Mickey na TV Tupi.

 

Os brasileiros que viveram 1979 usavam roupas íntimas da Poesi, camisas da US Top e jeans da Staroup. Muitos homens de negócios de São Paulo compravam ternos na Casa José Silva. As crianças usavam calçados Ortopé.

 

As crianças se divertiam com um jogo eletrônico chamado Telejogo (um antepassado do atual Playstation), com as bicicletas do tipo BMX da Monark e com as miniaturas da Revell. Colecionavam figurinhas da Turma da Mônica e coleção Super Heróis do chiclete Ping Pong.

 

O telefone ainda era um luxo para a maioria dos brasileiros. Além de caras, as pessoas tinham que esperar até dois anos para que as suas linhas fossem instaladas. Comprar planos como os da Telesp (da cidade de São Paulo) e da CTBC (que atuava na região do ABC) exigia um bocado de paciência.

 

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